Por Valentin Ferreira /do Conexão Jornalismo
Em artigo com milhares de curtidas e compartilhamentos, Paula D’Albuquerque fala sobre seu sentimento de medo que ganha corpo na medida em que enxerga a incoerência das pessoas que a cercam. Neste complexo ambiente político em que vivemos, os que estão mergulhados na política notam, cada vez mais, o quanto valores fundamentais são abandonados na medida em que o país afunda na sua mais forte crise desde a ditadura militar.
É de você que tenho medo
Por Paula D’Albuquerque.*
“Eu vou escrever. Quando vem a tristeza, quando parece que não há mais nada a ser feito, eu escrevo.”
*Não é sobre a reforma trabalhista, nem sobre a prisão do Lula. É sobre você e eu.*
Não me espanta senadores, que eram e são empresários, aprovarem uma reforma legal que facilita para os empresários pagarem salários menores.
Não me surpreende que Lula tenha sido condenado, já que essa intenção estava declarada desde o início do processo e a sua condenação é necessária para que ele não concorra à presidência.
*O que me assusta, sabe o que é? É você.*
Você que odeia corrupção, *deixar que senadores corruptos mudem as leis do seu ganha-pão.*
Você que foi às ruas *pedir a saída de Dilma e tolera o Temer.*
Você que *acredita que existe déficit na previdência e que é melhor trabalhar 20 anos a mais do que cobrar dos bancos e grandes empresas devedoras.*
Você que *pensa em votar num candidato que acha legal falar em estupro para uma colega de trabalho.*
Você que *pensa que é normal pagar 3000 por um telefone, e menos de 1000 de salário para professores.*
Você que *acha que a solução do país é a educação mas não acha legal quando os professores da sua cidade fazem greve com os servidores públicos.*
Você que *acha que as oportunidades de trabalho digno existem igualmente para todos no Brasil.*
Você que *não se importa que nessa semana o Brasil voltou a constar no mapa dos países que tem população abaixo da linha da miséria.*
Você que *acha que negros não sofrem preconceito* todos os dias.
Você que acha normal que haja tantos e tantos e tantos pobres, e *acha que todos eles são pobres porque não trabalham.*
Você que *não percebe os ônibus abarrotados desses pobres indo trabalhar todos os dias.*
*Você é que me assusta. É de você que eu tenho medo.*
Você não sabe, mas quando estiver frágil, *ninguém igual a você vai te defender.*
*Se a sua empresa fizer um corte de funcionários, ninguém como você vai te ajudar.*
Porque os outros, *se forem como você, não vão estar nem aí.*
Vai ser gente como você, que vai te pisar, e *dizer o quão incompetente você foi, e o quanto você merece ser demitido.*
Na verdade não serão os outros que vão te dizer isso. Vai ser você mesmo que vai se sentir um inútil, porque *você acreditou que sua vidinha anterior era resultado apenas do trabalho, e não tinha nada a ver com essas reformas, essa corrupção e com essa gente preta das ruas que fica te atrapalhando no trânsito.*
*Você é que me assusta.*
*É de você que eu tenho medo.*
Tenho medo de você, *e tenho medo de mim”.*
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